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quinta-feira, 10 de maio de 2012

VIOLÊNCIA, CRIMES, MORTES... NO ENTORNO E BRASÍLIA-DF



Medo no comércio do Itapoã: Quem não paga traficantes, se cerca com grades Quem não paga a traficantes, para não ser assaltado, se cerca com grades para não virar alvo dos bandidos Ary Filgueira
Publicação: 04/06/2010 08:10
Não é só o silêncio imposto pelos traficantes que impera entre os comerciantes do Itapoã. O medo de assalto também faz parte do cotidiano dos cerca de 400 proprietários de estabelecimentos comerciais situados no local. O que mais se vê na principal avenida comercial — que divide o Itapoã II do Del Lago — são grades em volta das lojas. Elas são fechadas antes mesmo de anoitecer. Dados da Associação Comercial do Itapoã mostram que, por dia, os estabelecimentos do setor habitacional, onde moram 100 mil pessoas, são alvos de até 40 roubos. A área de segurança não confirma essa estatística.

Um dia após denunciar a extorsão dos traficantes aos comerciantes do setor, o Correio retornou ao lugar e entrevistou outras vítimas. Apesar de a polícia negar o fato de os bandidos cobrarem até R$ 500 mensais para fazer a “segurança” do comércio, os empresários confirmaram a história. E dizem por que não denunciam. “Ninguém quer morrer, não é?”, disse o dono de um estabelecimento comercial instalado na QL 8 do Itapoã II, que pediu para não se identificar. O comerciante estava no caixa quando concedeu entrevista. Assim que o último cliente saiu do estabelecimento, ele pediu a um funcionário que trancasse o portão. Eram 11h30.

Ao ser questionado sobre qual o motivo de tanto medo, ele respondeu com a quantidade de assalto que seu comércio já sofreu em quatro anos. “Eu já fui assaltado, pelo menos, oito vezes. A maioria ocorreu nesse horário (de manhã)”, afirmou. Apesar de ficar a 800 metros do posto da Polícia Militar, o proprietário não se sente seguro. “As rondas diminuíram muito aqui”, lamentou. Ele garante que nunca pagou a traficantes para não ser assaltado. Mas já ouviu falar sobre a extorsão. “Se você denuncia à polícia, eles (bandidos) te assaltam”, completou.

A vizinha dele, que também é comerciante, fecha a grade do estabelecimento sempre no período da tarde. Ela fazia o atendimento a um cliente pela fresta quando deu entrevista. “Nesse horário, os bandidos saem para a rua”, disse Maria Barbosa, 27 anos, dona de um comércio na Quadra 7 do Del Lago. “É raro a polícia passar aqui”, disse ela. Maria perdeu as contas de quantas vezes foi assaltada. Por isso, resolveu colocar grande na entrada da loja.

Revolta
A matéria publicada na edição de ontem do Correio deixou o presidente da Associação Comercial do Itapoã, Amilson Braga, revoltado. Segundo ele, a quantidade de assaltos ocorrida por dia no comércio não coincide com os números desse tipo de crime na polícia porque muitos comerciantes deixam de fazer boletim de ocorrência. “Quase a totalidade das vítimas não registra o caso na delegacia porque não acredita mais em solução para isso”, afirmou ele.

Sobre a operação realizada na noite de quarta-feira, que atravessou a madrugada de ontem, ele disse que a medida não surte efeito esperado. “Operação como aquela não adianta nada. A polícia fica aqui umas horas e depois some”, criticou Braga. A ação foi organizada pela 10ª CPMind, responsável pelo policiamento no Paranoá e Itapoã, e contou com o apoio dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Trânsito (BPTran), e da 6ª Delegacia de Polícia, situada na mesma região. O saldo: um menor apreendido e um condutor preso por embriaguez.

O chefe da 6ª DP (Paranoá), Pablo Aguiar, disse que os comerciantes negaram que estejam sendo obrigados a pagar pela segurança aos traficantes. “Mas vamos continuar investigando”, garantiu. Em entrevista a uma emissora de TV, um comerciante afirmou que tem recebido ameaça de traficantes caso não pague a “mensalidade”. O delegado ironizou os números de assalto estimados pelo presidente da Associação Comercial. “Se tem isso, só ele está sabendo. Pelos meus cálculos, a delegacia não registra uma média de cinco por dia”, garante Pablo Aguiar.

Sargento é afastado

O sargento Angerlei Berger foi afastado da 10ª CPMind (Paranoá). A situação do policial, no entanto, pode piorar, caso a corregedoria da corporação comprove as denúncias de envolvimento dele com o trabalho de vigilância informal — o chamado “bico” (1)— conforme mostrou o Correio na edição de ontem. O processo administrativo já está em tramitação. “Ele teve de entregar a arma e, agora, fará serviços internos na Polícia Militar”, informou o delegado Pablo Aguiar, após falar com o comandante da PM no Paranoá, o tenente-coronel Alexandre Sérgio.

Em entrevista ao Correio essa semana, Berger diz cobrar até R$ 5 por dia para proteger os estabelecimentos do Itapoã. “Da quadra 303 até a 378 do Del Lago, é tudo minha (sic)”, afirmou ele. O militar também terá de se explicar na Polícia Civil. “Ele pode pegar até três meses de prisão pelo crime de exercício ilegal da profissão”, explicou Pablo. O militar distribuiu inclusive um panfleto no comércio oferecendo os serviços de vigilância, que ele considera como “segurança social”.

Lista extensa
O policial disse ter em sua lista de clientes 50 comerciantes da principal avenida comercial do Itapoã. Segundo o seu entendimento, a prática não é irregular, pois o preço cobrado era “simbólico”. Na mesma reportagem, Berger disse que o trabalho era voluntário. Mas se contradisse ao explicar que utiliza a arrecadação para custear a gasolina da Chevrolet S-10 e o pagamento dos dois homens que trabalhavam com ele. “E, claro, tem de sobrar algum trocado para mim, porque ninguém trabalha de graça”, admitiu o sargento Berger.

A atuação do policial como vigilante no horário de folga indignou o presidente da Associação Comercial do Itapoã, Amilson Braga. Para ele, a prática realizada pelo sargento é uma contravenção. “Ele também acaba fazendo o mesmo que os traficantes: extorquindo os comerciantes. Segurança pública é um direito de todos”, concluiu. (AF)
 1 - Serviço proibido
A lei nº 7.102, de 1983, que dispõe sobre a segurança em comércio, estabelece que o serviço de segurança particular deve ser executado exclusivamente por empresas especializadas. Elas devem ser cadastradas pela Polícia Federal. Se o vigilante em atividade ilegal reincidir, responde por crime de desobediência (artigo 312 do Código Penal). A pena pode chegar a dois anos de prisão. A portaria da Polícia Militar, editada mês passado, proíbe “bicos” de profissionais da corporação como vigilantes.

Fonte: 
Correio Braziliense

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